Efetivo policial não acompanha aumento da população e Praia Grande sofre com criminalidade
Suzana Fonseca
Na manhã de 26 de junho, turista foi assassinado em um banco no calçadão da Praia do Boqueirão
A morte de um turista durante uma tentativa de assalto, ocorrida na manhã do sábado retrasado, no calçadão da praia do Canto do Forte, em Praia Grande, trouxe mais uma vez à tona a discussão sobre o aumento do índice de criminalidade na Cidade.
Durante a semana, outros acontecimentos explosões de caixas eletrônicos e sequestro relâmpago confirmaram a gravidade da situação. Enquanto a população reclama da falta de segurança, o Executivo e o Legislativo pedem aumento do efetivo. E o comando da Polícia Militar (PM) no Município reconhece que o número atual de homens não é suficiente para fazer o policiamento preventivo.
Na última quarta-feira, a PM realizou um ação intensiva na Cidade utilizando um efetivo de 50 policiais e 18 viaturas. No período, as ocorrências relevantes praticamente zeraram. A preocupação com a falta de segurança em Praia Grande levou a Câmara a aprovar, no início de maio, uma moção de repúdio ao governador Geraldo Alckmin, "em razão do descaso e da falta de ações na temática da segurança pública no Município".
O trabalho, de autoria do vereador Leandro Rodrigues Cruz (PMDB), o Leandro do Avelino, contou com o apoio do próprio líder do PSDB na Cidade e ex-presidente da Casa, Katsu Yonamine colega de partido de Alckmin.
Para o atual presidente do Legislativo, o também tucano Antonio Carlos Rezende, o efetivo da PM na Cidade já é pequeno para a população. "Aí, aumenta mais 200 mil, 300 mil (nos finais de semana e feriados prolongados) e fica difícil. Não tem como culpar os policiais daqui. O culpado é justamente do Governo do Estado, que é o órgão encarregado da Segurança".
Efetivo
De acordo com o subsecretário de Assuntos de Segurança Pública de Praia Grande, José Américo Franco Peixoto, atualmente, o efetivo da Polícia Militar da Cidade gira em torno de 400 homens. Esse número, conforme Peixoto, é praticamente o mesmo de 2000, quando a população do Município era de 193.582 habitantes atualmente, a Cidade tem 262.051 habitantes, de acordo com o Censo 2010.
Passados dez anos, e comum aumento de mais de 35% no número de habitantes, Praia Grande possui um policial para cada grupo de 655 habitantes a recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) é que haja um para cada grupo de 250. "A Segurança é dever do Estado. Mas o Município tem contribuído sobremaneira, desde 2003, com a implantação do sistema de câmeras que talvez seja a maior do Brasil e pioneiro também aqui na Baixada Santista. Isso tem ajudado bastante, tanto a Polícia militar quanto a Polícia Civil", afirma o subsecretário.
"Toda semana, recebo ofício, tanto da Polícia Civil como do Judiciário, para ajudar com essas informações a desvendar alguns crimes que têm acontecido", destaca Peixoto. "O prefeito já mandou ofício para o Governador", conta o subsecretário."Eu já estive pessoalmente com o deputado federal Alberto Mourão falando como comando geral". Conforme Peixoto, o chefe do Comando de Policiamento do Interior (CPI-6), responsável pela região, coronel Sérgio Del Bel, e o comandante do 45º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I), de Praia Grande, tenente-coronel Pedro Akui, enviaram ofício ao comando geral da PM solicitando aumento do efetivo. O que ainda não ocorreu.
Terça-feira, A Tribuna entrou em contato com o Comando da PM em São Paulo a fim de obter informações sobre o possível aumento do efetivo em Praia Grande, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Aumento
Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo apontam que, de janeiro a maio deste ano, foram registrados 30 homicídios dolosos no Município e 15 tentativas de homicídio. No mesmo período, foram computados 1.272 roubos incluindo roubo a banco e de carga e 2.645 furtos.
Na comparação dos casos de homicídios dolosos registrados de janeiro a abril de 2010 (17) e o mesmo período deste ano (26), houve aumento de 52% nesse tipo de ocorrência.
Também houve aumento de 17,38% no número de furtos registrados pela SSP, passando de 1.830 nos primeiros quatro meses de 2010 para 2.148 no mesmo período de 2011. Os casos de furtos de veículos também tiveram acréscimo (23,5%), de 315 para 389 de janeiro a abril do ano passado e deste ano, respectivamente. Somente tiveram queda no número de ocorrências roubos de 1.211 para 997 (queda de17,68%) e roubo de veículos de 188 para 153 (redução de 18,61%).
"Há um número maior de ocorrências"
O comandante do 45ºBatalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I), tenente-coronel Pedro Akui, explica que o aumento da população em Praia Grande assim como em toda a região é acompanhado pelo aumento da criminalidade. "Temos tido um número maior no registro de ocorrências. E temos feito estudos buscando soluções, como operações específicas".
Segundo o comandante, a PM realiza operações com vistas ao turista, a feriados prolongados, visando caixas eletrônicos e aglomerações, como em shoppings.
Demanda
"Temos realizado essas operações dentro do possível, porque também aumentou muito a demanda do atendimento 190", explica Akui. Por conta do aumento das chamadas de ocorrências, o planejamento feito pela PM na Cidade acaba ficando comprometido, na avaliação de Akui.
"Há uma gama muito grande de ocorrências de desinteligência, de perturbação do sossego e que acabam tirando nossas viaturas da prevenção", ressalta o comandante do 45º BPM/I. "Há um questionamento do poder público municipal e da própria população com referência a esse efetivo", admite Akui. "Toda essa preocupação foi repassada a nosso escalão maior e sabemos que está sendo realizado um estudo".
Crimes se espalham por vários bairros
A falta de segurança na Cidade tem assustado os moradores, que reclamam da ausência de policiamento nas ruas, seja no Canto do Forte, no Ocian ou na Mirim. Arrastões, furtos ou roubos a residências ou veículos, bicicletas, celulares, joias ou equipamentos eletrônicos, como câmeras, não ocorrem somente com turistas desavisados.
Quinta-feira, uma moça que fazia entregas para uma farmácia foi feita refém por um grupo de marginais no Jardim Anhanguera. O bando queria informações sobre um malote de dinheiro. Depois de passar horas rodando no carro com os marginais, de olhos vendados, ela foi liberada no meio de um matagal.
Em junho, a mãe de Larissa Natasha Machado Tavares teve o veículo furtado na porta de casa, no Ocian, por volta das 22h30. "Na mesma hora ligamos para o 190. Falaram que iriam mandar uma viatura para lá. Chegaram às 5 da manhã", conta Larissa. "E disseram: a gente procurou, mas não achou. Já deve ter sido desmanchado".
De acordo com a moradora, até os policiais reclamaram das condições de trabalho. "Relataram que está difícil, porque só tem cinco viaturas para a Cidade inteira. Saiu da boca do próprio policial. Fiquei abismada". Larissa lembra que falta policiamento nas ruas do bairro. "Estamos completamente nas mãos dos bandidos".
Quiosques
Quarta-feira à noite, na Mirim, dois quiosques e uma banca de jornais foram furtados. "Fizeram a maior sujeira. Quebraram a porta, levaram o som, o liquidificador, o espremedor de frutas e toda a comida que tinha na geladeira",conta a proprietária de um dos quiosques, Denise Greco.
Na banca, segundo Denise, ainda colocaram fogo em jornais e revistas. "Não têm câmera neste trecho da praia, nem polícia passa aqui. A coisa mais difícil é ver viatura".
Seguindo a orientação da Polícia Militar, que afirma ser necessário a elaboração de boletins de ocorrência, a fim de que a corporação possa mapear os pontos de maior criminalidade e concentrar as ações preventivas nesses locais , o marido de Denise, Vitor Carlos Ribeiro, sempre vai à delegacia registrar as ocorrências. "Estamos cansados de ir ao DP (distrito policial) dar parte. Vemos direto pessoas serem assaltadas. É celular, câmera, cordão. É só ficar parado dez minutos no calçadão para ver", lamenta Denise.